As batidas da cultura pernambucana no coração de São Paulo
Vozes são anuladas ao som das caixas, gonguês e alfaias.
O colorido invade a quadra da escola Profº Antônio Alves Cruz e é impossível não ser contagiado por essa atmosfera rítmica e cheia de energia
É em um cenário assim, de alegria e descontração, que encontramos o grupo de Maracatu Bloco de Pedra - Calo na Mão, na região oeste de São Paulo.
A partir de um programa de revitalização, o projeto Fênix iniciou no ano 2000 uma série de ações que contribuíram para que o colégio Profº Antônio Alves Cruz mantivesse suas atividades normais, visto que se encontrava em vias de fechamento. Em meio ao esforço de diretores, professores, alunos e ex- alunos, diversos projetos começaram a ser desenvolvidos na escola e dentre eles estava o Calo na Mão, que trabalha com a cultura do Maracatu de Baque virado.
Hoje, 10 anos após o processo de reestruturação, a escola se mantêm viva e o projeto continua desenvolvendo suas atividades, que ocorrem aos sábados.
O Bloco de Pedra realiza três atividades principais. A primeira é a Oficina de construção, onde são oferecidos cursos sobre a produção de instrumentos típicos do Maracatu de Baque Virado, que posteriormente são utilizados nas aulas de percussão. Em seguida acontece uma aula de introdução ao Maracatu e por fim um trabalho aberto ao público.
Durante as oficinas abertas, o Bloco já chegou a reunir mil pessoas “Existe um movimento contemporâneo de revisitar e valorizar os folguedos populares. Muitos vem pela festa, pra assistir o Maracatu e pra dançar ” ressalta Márcio Lozzano, um dos coordenadores do projeto .
Na quadra,onde as apresentações acontecem, misturam-se aos instrumentos senhores, adultos, jovens e crianças. Os olhares ficam estagnados e podemos perceber o quanto as pessoas se sentem contagiadas. Alguns começam a dançar, outros cantam e existem aqueles que apenas vibram a cada batida “A primeira vez que assisti o Bloco entrei em estado de choque. Eu só pensava em participar e não ser apenas expectadora. A dança é incrível, e você não consegue ficar parada ” diz Bárbara Costa, 21 anos.
O projeto Calo na Mão conseguiu alcançar reconhecimento dentre as nações de Maracatu de Pernambuco e já teve a honra de receber alguns dos representantes mais tradicionais desse cenário artístico, como os Mestres Chacon Vianna ( Nação Porto Rico ) , Ivaldo Marciano (Nação Cambinda Estrela ) , Afonso (Nação Leão Coroado ), além dos Mestres das Nações Estrela Brilhante de Recife e Estrela Brilhante de Igarassu. Segundo Márcio Lozzano, essas visitas são essenciais para o grupo que podem mostrar o quanto o trabalho está sendo levado com seriedade e respeito.
Para Rogério Fonseca, que participa do grupo há 2 anos, o Maracatu é fundamental para manter a integração entre a comunidade e a cultura popular do nosso país “Sendo brasileiro e trabalhando dentro de uma cultura brasileira eu me sinto extremamente privilegiado. Aqui existe uma troca muito grande de harmonia, conhecimento e energia. Nós dançamos e cantamos , o que é vital para a preservação das nossas raízes ”
A ideia de valorização da nossa cultura popular brasileira é uma das principais metas do grupo que conseguiu difundir essa ideologia “O maracatu é comunidade, é aprender a viver, se respeitar, tentar conviver junto. O nosso objetivo principal na verdade, não é só preservar, desenvolver, fomentar ou brincar a cultura do Maracatu. É também o nosso objetivo que as pessoas fiquem bem, fiquem felizes, e é essa afinal de contas a ferramenta que possuímos”, afirma Márcio Lozzano.
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Yasmim Bianco é estudante de Jornalismo (Noturno)